segunda-feira, 25 de maio de 2009

Pico do Areeiro - Achada do Teixeira

Do Pico do Areeiro à Achada do Teixeira
Aos 1817 metros de altitude, no terceiro pico mais alto da ilha da Madeira, o Pico do Areeiro, junto ao miradouro da Pousada, avistamos a ocidente o vale da ribeira dos Socorridos e o da Serra de Água, seguido, mais a oeste, pelo extenso planalto do Paul da Serra. A norte vemos o Pico das Torres e a oriente o vale da ribeira da Fajã da Nogueira.
Traçada no topo dos interflúvios sobre material mais resistente surge a vereda de 7km que nos levará ao Pico Ruivo, o mais alto da ilha, com 1862 metros. Logo de início encontramos espécies adaptadas a um clima mais rigoroso e a um solo esquelético, tais como, goivos da serra, massarocos, ranúnculos, agrião da rocha, leitugas, andríalas, e a endémica urze madeirense que se desenvolve em tufos rasteiros, nas fendas das rochas.
Percorrendo o trilho, à nossa esquerda, estende-se o vale da ribeira do Cidrão, afluente da ribeira dos Socorridos, voltado a sul, e, mais soalheiro e à nossa direita, o vale da ribeira da Fajã da Nogueira, afluente da ribeira da Ametade, cavado nas umbrias declivosas a norte.
Após a passagem pelo pico do Cidrão, 1802m, a escassos metros, encontramo-nos no miradouro do Ninho da Manta, supostamente onde no passado esta ave de rapina nidificava. Aqui, a paisagem torna-se mais deslumbrante. Mesmo à nossa frente está o pico das Torres, com 1851 m, onde é possível observar a vereda que sobe, serpenteando em escadaria, a vertente bastante íngreme. Nas vertentes de vale, inúmeras escombreiras de materiais heterométricos testemunham a acção do gelo e degelo e da crioclastia, característicos dos ambientes periglaciáricos.
Pouco depois, surge o pico do Gato com os seus 1780 metros de altitude, cujo topo em forma de cogumelo soerguido, não é mais do que uma chaminé de fada, forma resultante de um processo de erosão diferencial, provocado pela acção erosiva das águas da escorrência e da chuva. Nesta zona montanhosa do Maciço Central, vivem nas escarpas rochosas as raras e belas armérias da Madeira, de flores rosadas numerosas e reunidas em capítulos, as antilídeas, as orquídeas das rochas, de inflorescência em espiga de flores rosado-purpúreas, espécies endémicas e exclusivas do 4º andar fitoclimático.
Atravessando em túnel, recentemente escavado nas rochas do pico das Torres, passamos da vertente sul para a do norte da ilha. Aqui estamos na cabeceira da Ribeira Seca do Faial. Ainda antes da subida para o Pico Ruivo, à nossa esquerda, encontramos grutas escavadas nos tufos vulcânicos, material mais brando e pouco resistente, que serviam de resguardo ao gado em dias de mau tempo. Sob um tecto de centenárias urzes molares arqueadas pela força persistente dos ventos fortes de norte e de nordeste, tentilhões e bis-bis surpreendem-nos a todo o momento com o seu cantar. Ao fim de meia hora, chegamos à casa de abrigo do Pico Ruivo, construída em 1939 e recentemente ampliada e melhorada. A subida ao ponto mais alto é obrigatória, em especial, para quem ainda não desfrutou da sensação de ter aos seus pés uma ilha banhada por um mar de nuvens, apesar do possível impacto causado pela construção de um palco de madeira. Do cimo do pico, nos dias de céu limpo, é possível avistar o Pico das Torres, a Boca das Torrinhas, o Pico Grande, o Paul da Serra, as ribeiras da Metade e dos Socorridos e o vale encaixado da ribeira de S. Jorge. A Nordeste fica o Porto Santo, flutuando como uma nuvem no horizonte.
De regresso, na descida, seguimos para leste pelo trilho pavimentado. Neste trajecto observamos algumas nascentes que brotam pelas fissuras deixadas pelos materiais vulcânicos de características diferentes. Em dias de frio muito intenso é frequente a formação de geadas. Podemos também encontrar espécies endémicas próprias destas altitudes entre as quais a Violeta da Madeira (Viola paradoxa) alcandorada nas rochas.
Ao fim de 3 km chegamos à Achada do Teixeira, área aplanada situada aos 1600m de altitude, em Santana, no topo do interflúvio entre as bacias hidrográficas da ribeira Seca do Faial e da ribeira de S. Jorge. Nesta achada podemos contemplar o “Homem em Pé”, assim chamado, pela sua parecença a um humano, mas que não é mais do que uma coluna basáltica que, pela sua dureza, resistiu ao longo dos tempos à força erosiva das águas de escorrência.
Clube de Ecologia Barbusano